quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Sensibilidade Sacra

"Nos dias de ócio a sensibilidade aflora, questões do tipo: “Qual o sentido da vida? Quem sou eu? Quem é Deus? Brotam na mente com uma urgência inexorável e uma acidez desconcertante. Pois bem, coloquei-me a pensar em Deus e antes que eu pudesse notá-las as idéias estavam escritas, saltavam de mim como crianças na areia. “

O Homem sofre por negar sua natureza, sempre torneada pelo bem e o mal. Admitamos, o Mal é um mal necessário. Todavia, equilibrar essas polaridades é uma capacidade humana que conseqüentemente nos diviniza, como assinala o princípio do Yin Yang na filosofia oriental, mas exige de nós um espírito forte e amadurecido.

A existência de Jesus Cristo no ocidente, é a prova mais divulgada disso, ele foi a união do humano e do divino no mundo. ”Quem vê a mim, vê aquele que me enviou.” João 12:45. Cristo foi humano em tudo, menos no pecado, no pecado de negar sua natureza. É esse o maior ensinamento cristão. Logo, podemos concluir que a vinda de Cristo resultou no fim da necessidade de crença em um ser superior que nos dê redenção, já dizia Friedrich Nietzsche em Assim Falava Zaratustra: “A divindade consiste em haver deuses, mas não Deus.”

O Homem é plenamente capaz de dominar sua natureza, libertar-se de sua supremacia, ou melhor, de conduzir sua vida harmonizando seus desejos e necessidades, baseando-se numa moralidade existencial e não religiosa. Porém não podemos negar o valor da religião na formação do homem que almeja austeridade, plenitude, pois essencialmente ela possibilita essa união de opostos tão necessária, assim como também a arte e a ciência. Mas o que acontece é que as práticas religiosas hoje se tornaram grosseiras. Apenas acolhem uma humanidade carente, preguiçosa, por vezes ignorante, por vezes inocente, necessitada não de religião, mas de terapia e a serviço não da plenitude da vida, mas do poder, da dominação. A religião se vangloria por traçar leis morais que guiam a existência humana, mas na realidade tais leis, apenas nos afastam da possibilidade de alcançar a felicidade neste mundo e no presente, e, contudo a moral e a ética são produtos do Homem, da necessidade de viver em sociedade e não fruto da divina revelação que habita numa dimensão distante de nós.

Se Deus e o reino dos céus é um estado de alma amadurecido e em harmonia com os princípios da vida _como nos ensina Cristo e não o cristianismo _ podemos entender que a religião, a arte, a ciência são criações humanas, veículos que nos conduzem a Deus, ou seja, nos fazem aportar em nós.

"E gozo, num momento sensitivo e competente

A Libertação de todas as especulações

E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto."

Tabacaria - Alváro de Campos


Julliana Soares