sexta-feira, 4 de março de 2011

Ponto de Cultura Teatro Experimental de Arte sedia o Projeto “A subjetividade do ator”

O projeto “A Subjetividade do Ator: individualidade e coletividade”, desenvolvido pela pesquisadora e diretora teatral Marianne Consentino e contemplado pelo “Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura”, do Ministério da Cultura, será realizado no Teatro Experimental de Arte entre os meses de março a maio. O objetivo é realizar oficinas de Formação e Treinamento de Ator para os monitores das Oficinas de Iniciação Teatral ministradas pelo TEA, a partir de técnicas teatrais que tenham como base a exposição da subjetividade do ator. O resultado previsto é a construção de pequenas cenas inspiradas no texto “Carta ao Pai”, de Franz Kafka, a serem apresentadas nos Pontos de Cultura de Caruaru.

Marianne Consentino, doutoranda em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia sob orientação da Profª Drª Sonia Rangel, pesquisa o desenvolvimento de uma metodologia de formação que parte do princípio de que a arte do ator é a manifestação de uma singularidade na coletividade - não a exposição de um “eu” interior e imutável, mas sim de um “eu” que só existe em relação com o outro, que por sua vez é dotado de uma maneira própria e particular de ação. Portanto, o encontro se dá na exploração da diferença, sendo que o estímulo é dado no sentido de honrar essa diferença e lhe dar cabimento, ao invés de expulsá-la, eliminá-la como aberração ou depreciá-la em nome de uma norma comum.

De acordo com Fabio Pascoal, coordenador das Oficinas de Iniciação Teatral ministradas pelo Ponto de Cultura Teatro Experimental de Arte, retomar a dimensão mágica da vida, o autoconhecimento, estabelecer relações mais saudáveis, desenvolver e entender o processo imaginativo e entender a realidade como parte de um processo em construção e assim em permanente mudança são os elementos fundamentais que postulam as iniciativas das Oficinas de Iniciação Teatral propostas pelo TEA.

Em comum, há o desejo de desenvolver uma metodologia de ensino de teatro que estimule a relação entre indivíduos onde o EU só acontece na presença do TU, buscando a atualização no homem no momento presente do encontro, despertando uma experiência de intersubjetividade na qual se busca a abertura para o outro, relativizando o EU e permitindo a invasão pelo outro. O objetivo final é a soma de experiências para um fim comum: utilizar o teatro como um meio de abrir nosso olhar para um mundo de complexidade e sutileza.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

De olhos Fechados.

"Minha pele abriu os olhos e ganhou o mundo. A realidade me tocou leve e convicta.
Com os olhos da cara, nada era tudo eu via.
A breve lucidez de hoje, me veio como um afago materno."

Caruaru, 05 de novembro de 2010

Escola Nicanor Souto Maior


Nesta aula surgiu a ideia de fechar os olhos e praticar um exercício sensorial muito utilizado no teatro. Uma caminhada cega no espaço se mostrou necessária.
Livres da soberania visual, os sentidos se aguçam, a realidade se transforma e torna-se única para cada um. Os alunos foram convidados a entrar em contato com o seu mundo particular, enquanto se deixavam guiar_numa relação de confiança_ por outros colegas.
Os corpos cegos e dilatados caminhando no pátio da escola, ironizavam a vida -"Nós estamos todos cegos." Jose saramago - e provocavam estranheza, ternura, repúdio, curiosidade, uma série de sensações que alterou nossa mecanicidade cotidiana
De olhos fechados, o corpo adquire um novo ritmo. Parece dançar com graça e sutileza num tempo que também torna-se outro.
De olhos fechados, os alunos olharam para si e para o mundo com a alma cândida e integra.
A aula acabou e deixou impressa as sensações de exaustão e alívio, típicas de um final de espetáculo.

Evoé!

"Não há nada na idéia que antes não tenha passado pelos sentidos. "Aristóteles

Julliana Soares

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Sensibilidade Sacra

"Nos dias de ócio a sensibilidade aflora, questões do tipo: “Qual o sentido da vida? Quem sou eu? Quem é Deus? Brotam na mente com uma urgência inexorável e uma acidez desconcertante. Pois bem, coloquei-me a pensar em Deus e antes que eu pudesse notá-las as idéias estavam escritas, saltavam de mim como crianças na areia. “

O Homem sofre por negar sua natureza, sempre torneada pelo bem e o mal. Admitamos, o Mal é um mal necessário. Todavia, equilibrar essas polaridades é uma capacidade humana que conseqüentemente nos diviniza, como assinala o princípio do Yin Yang na filosofia oriental, mas exige de nós um espírito forte e amadurecido.

A existência de Jesus Cristo no ocidente, é a prova mais divulgada disso, ele foi a união do humano e do divino no mundo. ”Quem vê a mim, vê aquele que me enviou.” João 12:45. Cristo foi humano em tudo, menos no pecado, no pecado de negar sua natureza. É esse o maior ensinamento cristão. Logo, podemos concluir que a vinda de Cristo resultou no fim da necessidade de crença em um ser superior que nos dê redenção, já dizia Friedrich Nietzsche em Assim Falava Zaratustra: “A divindade consiste em haver deuses, mas não Deus.”

O Homem é plenamente capaz de dominar sua natureza, libertar-se de sua supremacia, ou melhor, de conduzir sua vida harmonizando seus desejos e necessidades, baseando-se numa moralidade existencial e não religiosa. Porém não podemos negar o valor da religião na formação do homem que almeja austeridade, plenitude, pois essencialmente ela possibilita essa união de opostos tão necessária, assim como também a arte e a ciência. Mas o que acontece é que as práticas religiosas hoje se tornaram grosseiras. Apenas acolhem uma humanidade carente, preguiçosa, por vezes ignorante, por vezes inocente, necessitada não de religião, mas de terapia e a serviço não da plenitude da vida, mas do poder, da dominação. A religião se vangloria por traçar leis morais que guiam a existência humana, mas na realidade tais leis, apenas nos afastam da possibilidade de alcançar a felicidade neste mundo e no presente, e, contudo a moral e a ética são produtos do Homem, da necessidade de viver em sociedade e não fruto da divina revelação que habita numa dimensão distante de nós.

Se Deus e o reino dos céus é um estado de alma amadurecido e em harmonia com os princípios da vida _como nos ensina Cristo e não o cristianismo _ podemos entender que a religião, a arte, a ciência são criações humanas, veículos que nos conduzem a Deus, ou seja, nos fazem aportar em nós.

"E gozo, num momento sensitivo e competente

A Libertação de todas as especulações

E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto."

Tabacaria - Alváro de Campos


Julliana Soares